Plano
de aula não presencial EE
Rodrigues Alves |
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Professor: Cláudio |
Disciplina: Eletiva – Geografia do Futebol |
Classes:6º B |
Data: 07 a 11 de dezembro. |
Objetivo da aula: Compreender o racismo no futebol. |
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Habilidade da aula: Ser capaz de compreender
a questão do racismo no futebol desde sua origem até os dias atuais. |
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Conteúdo da aula: Artigo | Não é novidade o viés racista
do futebol
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Roteiro da
atividade: A partir da
leitura do artigo responda: na sua opinião, o quê deveria ser feito para que
o racismo fosse amenizado no futebol? |
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Informações adicionais sobre a elaboração e entrega das
atividades: Vídeos complementares na página do facebook Virtua
professor Claudio - @claudioteacher |
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Data da entrega: 14 de dezembro. |
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E-mail onde o aluno deverá entregar a atividade: claudiogoncalves@professor.educacao.sp.gov.br |
Artigo
| Não é novidade o viés racista do futebol
Desde
o nascedouro do esporte essa violência existe e o acompanha até os dias atuais
O esporte é um dos espaços mais
almejados para ascensão no imaginário da juventude brasileira, no entanto, é
também um espaço perverso e violento para quem é negro num país estruturado
pelo racismo. Paira nesse imaginário a ilusão do esporte como a única forma de
crescimento e inclusão do jovem negro da periferia na sociedade. Uma armadilha
do esporte espetáculo e da mídia, que, muitas vezes, reproduz padrões
eurocêntricos e racistas. Nesse caminho, acabamos homogeneizando os indivíduos,
a cultura, o conhecimento e o esporte. Não é de hoje e nem é novidade o viés
racista do futebol. Desde seu nascedouro essa violência existe e o acompanha
até os dias atuais. Na sua gênese, considerado um esporte nobre, apenas a elite
- leia-se: brancos - podia jogar. Os pretos não tinham espaços para aquela
prática esportiva. Estamos falando do final do século XIX e início do século
XX, pós período de pseudoabolição, no qual outro desafio é colocado para a
população negra: o enfrentamento as mazelas sociais urbanas para as quais essa
parcela da população não fora preparada. Apesar do sentimento de ânimo e
uma sensação de liberdade no pós-abolição, a classe dominante não aceitou e não
integrou esse alto contingente de negros recém-libertos na sociedade. Ao chegar
às zonas urbanas, os negro não tinham perspectiva. A tentativa de superar as
dificuldades pela falta de trabalho, comida e moradia era o mais importante,
mas suprir as suas necessidades nem sempre era possível. Outro fator a se
destacar é que existiu e existe todo um aparato político, social, cultural,
educacional e filosófico que estruturou no pensar e no agir que a mulher negra
e o homem negro são inferiores. Uma construção social do pensamento brasileiro
alicerçado à luz da estrutura racista colonial brasileira, em que o branco é
detentor exclusivo de humanidade, ou seja, o outro não é humano. Melhor
dizendo, ser negro não é ser humano. E todo mundo deseja ser humano! Grada
Kilomba nos alerta que “a língua tem uma dimensão política de criar, fixar e
perpetuar relações de poder e de violência, pois cada palavra que usamos define
o lugar de uma identidade”. A partir dessa reflexão, nos afastamos de tudo que
significa negrura interpretado como ruim e do entendimento de que o bom é a
brancura, na qual, nos afastamos de tudo aquilo que lembre que somos negros. Esse
intróito se faz necessário para que possamos entender o que reverberou, nas
últimas semanas, nas redes e nas mídias sociais, em relação ao racismo sofrido
pelo jogador Neymar Jr, chamado de “macaco” pelo zagueiro Álvaro González, na
partida do campeonato francês. O racismo é o crime perfeito, como nos
revela Munanga, porque a própria vítima é lida como responsável pela violência.
Quem cometeu a violência não tem nenhum problema. O racismo é perverso e
violento, nos retira a humanidade, nos objetifica e nos animaliza. Não foi
apenas o Neymar que ele agrediu, mas todos os milhares e milhares de negros do
mundo. Vivemos em uma sociedade que é pensada para o processo de
embranquecimento, na qual Neymar e muitos de nós fomos inseridos. Outrora
Neymar se afirmou como branco, hoje se afirma como negro, mas quem nunca o fez?
Quem nunca pensou em alisar o cabelo para ser aceita? Quem nunca raspou o
cabelo para negar sua negritude e se aproximar do padrão? Quem nunca pensou
afilar o nariz para tirar as marcas da negrura? Afinal, a eficácia do racismo é
essa de não se entender como preto numa estrutura colonial racista. O processo
de negação, o auto ódio que o racismo constrói em nós, pretos, resulta na não
aceitação e em não querer ser preto. Neusa Santos Sousa, em seu livro “Tornar-se
negro”, nos alerta: “ser negro não é uma condição dada a priori ser negro é um
vir a ser é um tornar-se é um processo de transformação dentro de um realidade
social”. A ascensão social conquistada por meio do esporte nos aproxima do
entendido como humano, ou seja, nos deixa mais perto do branco. Quanto mais
ascende, menos próximo dos outros negros você vai estar, menos se reconhece
positivamente na negrura, pois a estrutura racista colonial brasileira
impossibilita você ser negro e humano ao mesmo tempo. Ou um ou outro. Então eu
me afasto de ser negro. Neymar não foge desse caminho atravessado por
leituras subliminares do que é o desejo desse lugar de humanidade, dessa
identidade que precisa ser alcançada para chegar à branquitude, uma verdadeira
violência da nossa subjetividade. Outrossim, o zagueiro Álvaro Gonzalez, não
enxerga Neymar, enxerga um corpo preto que precisa ser depreciado e
animalizado. Esse olho do racismo e do colonizador viu ali um corpo preto não
identificado como humano. Não é a pessoalização de Neymar que queremos
discutir, mas a causa de um povo no despertar para o racismo. Essa é a dimensão
que precisamos entender. Como nossa subjetividade é violentada cotidianamente
nessa estrutura racista, que é brutalizada no campo das palavras. Começar a se
perceber enquanto preto é um processo, uma construção e Neymar chega a esse
processo que deveria ser acolhedor e não questionador. Afinal, a tomada de
consciência do Neymar se deu a partir da percepção da violência que sempre nos
acompanha e que faz questão de nos alertar que aquele não é o seu lugar. Finalizo
com essa grande ancestral, Neusa Sousa Santos, que diz que ser negro é um
eterno vir a ser, não basta apenas se identificar. E o que muda na realidade
concreta? Você se percebe como negro/ a partir de que matriz cultural. Precisa
de uma localização e de um epicentro para que se construa um consciência racial
positivada, das nossas próprias narrativas, que se encontra com a nossa
subjetividade. Seja bem-vindo, meu irmão!
*Professora IFCE Campus Jaguaribe e Coordenadora do Neabi Campus
Jaguaribe
Edição: Monyse Ravena
Atividade
A partir da leitura
do artigo responda: na sua opinião, o que deveria ser feito para que o racismo
fosse amenizado no futebol?
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