Plano de aula não presencial
EE Rodrigues Alves
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Professor: Cláudio
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Disciplina: Eletiva – Geografia do
Futebol
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Classes:6º B
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Data: 15 a 19 de junho
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Objetivo da aula: Analisar a
questão do racismo no futebol Brasileiro.
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Habilidade da aula: Entender
a questão da discriminação racial no contexto da futebol brasileiro e suas
implicações.
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Conteúdo da aula: Futebol e racismo: o mito da
democracia racial em campo
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Roteiro da atividade:
Através da leitura do texto, produza uma análise
crítica sobre a questão étnica no futebol brasileiro.
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Informações adicionais sobre a
elaboração e entrega das atividades:
Vídeos complementares na página do facebook
Virtua professor Claudio - @claudioteacher
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Data da entrega: 22 de junho
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E mail onde o aluno deverá
entregar a atividade:
claudiogoncalves@professor.educacao.sp.gov.br
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Futebol
e racismo: o mito da democracia racial em campo
A história do futebol brasileiro contém, ao
longo de um quase um século, registros de episódios marcados pelo racismo. Eis
o paradoxo: se de um lado a atividade futebolística era depreciada aos olhos da
“boa sociedade” enquanto profissão destinada a pobres, negros e marginais, de
outro ela se achava investida do poder de representar e projetar a nação em
escala mundial.
O processo de difusão do futebol em São Paulo
teve ao longo da história um caráter multifacetado, percorrendo vários espaços
lúdicos, engajando inúmeros agentes sociais, avançando mediante uma dinâmica
não isenta de contradições. Desde as escolas religiosas, passando pelos times
de fábrica, incluindo os clubes de elite, a bola começou a rolar muito cedo –
no Velódromo Paulista e na Várzea do Carmo.
Por toda parte, ela estimulava a formação de
equipes, atraía a atenção do público, abria caminho entre as classes sociais e
os grupos étnicos, seguindo o traçado das linhas de ferro, como, por exemplo, o
da Ponte Preta, em Campinas, onde, como revela o historiador José Moraes Neto,
em 1900 atuava Miguel do Carmo, jovem ferroviário e jogador negro.
Vínculo menos assimétrico entre negros e brancos
O trem do futebol descortinava perspectivas
promissoras no terreno das relações sociais. Mas embora transportasse ricos e
pobres, negros e brancos, ele o fazia alocando os diversos grupos em vagões
separados, combinando os critérios de distinção social com os da discriminação
racial para reservar à juventude privilegiada o uso exclusivo da primeira
classe. Enquanto esta agia de modo a reforçar as divisões internas da
composição, a mocidade alegre dos subúrbios buscava franquear a passagem a fim
de enriquecer a experiência da viagem.
Caberia, nesse sentido, um papel de destaque
aos jogadores que logravam transitar entre os diversos compartimentos –
mediadores culturais que atuavam tanto no circuito oficial dos clubes de elite,
quanto nos circuitos populares dos times de várzea. De acordo com o historiador
René Duarte Júnior, tal era o caso de Arthur Friedenreich, o qual, antes de se
distinguir no aristocrático Paulistano havia jogado no modesto São Paulo.
Friedenreich: trânsito entre os dois lados
Autor do gol da vitória contra o Uruguai, por 1
a 0, na dramática decisão do Sul-Americano de 1919, ele também participava dos
jogos comemorativos da Abolição celebrados a cada 13 de Maio entre “Pretos x
Brancos”. Mestiço, filho de um imigrante alemão e de uma afrodescendente, o
atacante ora alinhava ao lado dos primeiros, ora cerrava fileiras com os
segundos, desvelando a complexidade das relações raciais e a margem de manobra
dos atores, bem como o jogo sempre aberto e indefinido das identidades
coletivas. Os encontros festivos, no entanto, acabaram proscritos pelo Estado
Novo, contrário a toda forma de manifestação que explicitasse os antagonismos
raciais na sociedade. Além disso, no início dos anos 1930, o futebol
enfrentaria os solavancos provocados pelos embates entre os adeptos do
amadorismo versus os defensores do profissionalismo.
Leônidas da Silva: identidade ambígua do atleta
Seria nesta conjuntura adversa que, na estação
de Bonsucesso, no Rio de Janeiro, Leônidas da Silva pegaria o bonde da
história. Símbolo da proeminência adquirida pelo boleiro em detrimento do
sportman, ele encarnava a mudança destinada a apagar os últimos vestígios da
marca refinada, esnobe e excludente que a juventude privilegiada procurara
atribuir à prática do esporte inglês, substituindo-a gradativamente por uma
feição mais popular do jogo, por uma dimensão mais nacional do futebol, por uma
identidade mais ambígua do atleta, como nos permite inferir a observação do
próprio Diamante Negro: “naquela época”, jogador “era tratado como marginal”.
Eis o paradoxo: se, de um lado, a atividade
futebolística era depreciada aos olhos da “boa sociedade” enquanto profissão
destinada aos pobres, negros e marginais, de outro lado, ela se achava
investida do poder de representar e projetar a nação em escala mundial.
Riscos simbólicos
A realização da Copa do Brasil em 1950 viria a
se constituir, neste sentido, em uma rara oportunidade. A rigor, o clima de
otimismo já se encontrava instalado muito antes do início da competição.
Contudo, no dia da decisão contra o Uruguai sobreveio o inesperado revés. Foi,
então, que os torcedores descobriram os riscos simbólicos envolvidos na tarefa
de reimaginar a nação dentro das quatro linhas do campo.
As reportagens da crônica esportiva elegiam o
goleiro Barbosa e o defensor Bigode como bodes expiatórios, exprimindo a
vontade de “descarregar nas costas” dos referidos jogadores os “prejuízos”
acarretados pela derrota. Uma chibata moral, eis a sentença proferida no
tribunal dos brancos.
A revolta da chibata
Nos anos 1970, por não atender às expectativas
normativas suscitadas pelo estereótipo do “bom negro”, Paulo César Lima foi
classificado como “jogador-problema”. Responsabilizado pelo fracasso do Brasil
na Copa da Alemanha, pleiteava o direito de voltar a vestir a camisa verde e
amarela. O rumor de que o banimento tinha o respaldo de um ministro de Estado,
não o surprendia: “Se for, mais uma vez vou ter a certeza de que sou um negro
que incomoda muita gente”. E acrescentava: “Não vou ser um negro tímido,
quieto, com medo e temor das pessoas”.
Dessa maneira, nas páginas de O Estado de
S.Paulo, Paulo César esboçava a revolta da chibata no futebol brasileiro.
Enquanto Barbosa e Bigode, sem alternativa, suportaram com dignidade o
linchamento moral na derrota de 1950, Paulo César contra-atacava os que
pretendiam condená-lo pelo insucesso de 1974, reeditando as acusações de
“covarde” e de “mercenário” – as mesmas dirigidas a Leônidas no passado. Ao
contrário de Friedenreich, no entanto, Paulo César assumia, sem ambiguidades,
as cores e as causas defendidas pela esquadra dos pretos em todas as esferas da
vida social.
“Sinto na pele esse racismo subjacente”,
revelou certa vez à imprensa francesa: “Isto é, ninguém ousa pronunciar a
palavra ´racismo`. Mas posso garantir que ele existe, mesmo na Seleção
Brasileira”. Sua ousadia consistiu em pronunciar a palavra interdita no espaço
simbólico utilizado pelo discurso oficial para reafirmar o mito da democracia
racial.
Texto de: José Paulo Florenzano, professor de
Antropologia da PUC-SP e autor do livro “A Democracia Corinthiana” (2009).
Fonte: GoetheInstitut
Atividade
Através da leitura
do texto, produza uma análise crítica sobre a questão
étnica no futebol brasileiro.
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